sábado, agosto 18, 2007

























Tem dias que são assim. Luzes opacas quebrando a escuridão, janelas miúdas querendo te salvar do tédio dos dias. Cumprem seu papel, como todas as coisas inertes; assim como eu. Minha imaginação tenta, mas não consegue. Passar pelos vidros foscos, voar pelos ares livres. Não dá, não dá. É preciso algo mais do que a simples vontade. É preciso asas. As da liberdade. As minhas, não sei por onde andam. Talvez tenham desistido e procurado outro anjo.


Sandra Porto




Imagem: Vazios Rurais.
Fotógrafo: Paulo de Souza.



Fonte:
Imagem: http://www.1000imagens.com

quinta-feira, agosto 02, 2007

Remédio
























Remédio.

Abandonei as conquistas dos homens sem fé,
já que nenhuma delas me disse: és comum!
Tola vaidade. Acreditei na ilusão.

Abandonei a ilusão das visões iluminadas,
Já que homem comum sei quem sou: filho.
Servo apenas, aceito o que sou.

Hoje dou graças,
Por ser cego, comum e servo.
Nada mais exijo ou procuro.

E tudo tenho
E tudo vejo
E tudo encontro.


Sandra Porto.



Imagem: Afoxé.
Fotógrado: Everaldo Luis.


Imagem: http://eversilva.multiply.com/

terça-feira, julho 17, 2007





















Num pedaço de minha memória
Guardo pedaços de luz.

Brilham como vaga-lúmens
Que voam à noite nos campos
Quietos de vozes, repletos de sopros.

Minha mente está quieta
Meu coração, revolto
Em ondas de sal e azuis.

Olho às vezes para esta imagem
E não sei quem sou.
Se sonho ou se desperta,
Procuro os sinais.

Recorro aos deuses
E Eles me respondem
Em tantos piscares
Que fico cega.

Mas no fundo, no fundo
Só queria te ver.
E que você me visse
Tal como sou,
Sempre te amando.

Sandra Porto

Imagem: Uxia.
Fotógrafo: Luís Garção Nunes.


Fonte: http://fotomomento.blogspot.com/

terça-feira, março 13, 2007

Hora de Acordar



















Descansa.
O Homem já se fez
O escuro cego raivoso animal
Que pretendias.


(Via Vazia - VIII)

Hilda Hilst

Fontes:

Imagem: http://www.1000imagens.com/

Texto: http://www.angelfire.com/

terça-feira, janeiro 30, 2007

Primeira Criatura

























Uma das pessoas que vivem em mim (algum poeta já começou assim um de seus poemas - com todo respeito), tem uma alma de pura nobreza, coisa que não sei de onde vem, mas que gosto demais. Gosta de colecionar memórias e poemas, porque considera que as duas são a mesma coisa. As memórias ela guarda em caixas, grandes, bonitas e onde ninguém pode mexer. Lá dentro tem um pouco de tudo, desde pedaços de pétalas de flores secas e antigas, até as pinturas feitas pelas máquinas modernas que registram os instantes de seus entes, outras criaturas que, ou por ela foram criadas, ou que por ela foram adotadas como suas. Às vezes ela gostaria de morar dentro destas caixas, porque lá a vida não se deteriora e nem se desgasta com o tempo. De dentro delas, das caixas, quando foge deste mundo confuso, ela vai tecendo as sutis relações com as criaturas que fazem parte deste seu infinito particular, com se deusa fora, cosendo o que de melhor existe nelas e desfazendo aquilo que não lhe agrada e que torna seus queridos seres desumanos e tristes. Não tolera deselegâncias e coisas toscas. Toscas aqui não tem uma conotação estética, já que o tosco, algumas vezes, pode virar arte e quando assim lhe parece, considera contemplá-las com seu olhar compassivo e curioso. Os poemas, os deixa à mostra, feito as bandeirolas que os budistas fincam nos montes ou em frente aos seus templos deixados ao sabor dos ventos, para que as palavras de beleza e encanto se espalhem pelo cosmo e fecundem a o planeta que tanto ama. Seu nome é mistério. Ninguém o saberá até que ela considere que as criaturas possam ouvi-lo sem nenhum preconceito ou julgamento. Um dia, quem sabe...


Sandra Porto

03/01/2007

Imagem: Mãos.
Fotógrafo: Luís Garção Nunes.

Fonte: http://www.1000imagens.com/