quarta-feira, novembro 30, 2005

Espelhos




















XLVI


Talvez eu seja
O sonho de mim mesma,
Criatura-ninguém
Espelhismo de outra
Tão em sigilo e extrema
Tão sem medida
Densa e clandestina

Que a bem da vida
A carne se fez sombra.

Talvez eu seja tu mesmo
Tua soberba e afronta.
E o retrato
De muitas inalcançáveis
Coisas mortas.

Talvez não seja.
E ínfima, tangente
Aspire indefinida
Um infinito de sonhos
E de vidas.

Hilda Hilst, in Cantares. Ed. Globo.
ue des Gobelins.
Fotógrafo: Eugenène Atget.


Fonte da Imagem: http://www.masters-of-photography.com