domingo, maio 23, 2010

Ao momento presente.




"Como um bebê ou um cristal: tome-o nas mãos com muito cuidado. Ele pode quebrar, o momento presente. Escolha um fundo musical adequado – quem sabe, Mozart, se quiser uma ilusão de dignidade. Melhor evitar o rock, o samba-enredo, a rumba ou qualquer outro ritmo agitado: ele pode quebrar, o momento presente. Como um bebê, então, a quem se troca as fraldas, depois de tomá-lo nas mãos, desembrulhe-o com muito cuidado também. Olhe devagar para ele, parado no canto do quarto ou esquecido sobre a mesa, entre legumes, ou misturado às folhas abertas de algum jornal. Contemple o momento presente como um parente, um amigo antigo, tão familiar que não há risco algum nessa presença quieta, ali no canto do quarto. Como a uma laranja, redonda, dourada – mas sem fome, contemple o momento presente. Como a cinza de um cigarro que o gesto demorou demais, caída entre as folhas de um jornal aberto em qualquer página, contemple o momento presente. E deixe o vento soprar sobre ele."

Caio Fernando Abreu.

quinta-feira, novembro 19, 2009

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Chego neste momento e vejo as marcas em minha alma. Não sei bem avaliar se o tempo das experiências é o mesmo da assimilação delas. Creio que não. Passa rápido, como um furacão inesperado. Destruição e reconstruções. "Eu ando bem ligeiro", como diz a música que quebra o silêncio do meu quarto. Inesperado. Passa. E fica. Contradiz. Marca. Minhas. As marcas e os tempos.

quinta-feira, julho 09, 2009

No Lavradio.


Pelo sim, pelo não
Vou pedir proteção
Ao senhor do Bonfim
Nosso amor vai mais fundo
Vai deitando raízes
É difícil no mundo viver
Tão felizes assim como nós
Sou a voz que levanta
Sou aquele que canta
Uma canção sem fim
Pelo sim, pelo não
Vou pedir proteção
Ao senhor do Bonfim

Foto: Sandra Porto

Música: Pelo sim, pelo não. Moraes Moreira.

segunda-feira, junho 15, 2009

Juninas 1


"Vento que vento ventão
Me ponha logo no chão
Tenho muito que fazer."


Foto: Sandra Porto.

Juninas



"Pula a fogueira Iá, Iá
Pula a fogueira Iô, Iô
Cuidado para não se queimar
Olha que a fogueira já queimou o meu amor."


Foto: Sandra Porto.

sábado, abril 25, 2009

Baiana de Jorge.


"Mas eu vou num canto, vou num pai de santo pedir
Qualquer dia
Que me dê um despacho, um banho de erva e uma guia
Tenho aqui um endereço um senhor que eu conheço me deu
Há 3 dias
O mais velho é batata diz tudo na exata, é uma casa em Caxias."
Imagem: Sandra Porto.

quinta-feira, abril 16, 2009

Vestido de Chita Mô Fio!


Vem cá morena que eu quero te amar
Vem cá morena que eu quero te beijar

Teu vestido de chita no vento se arrebita
Fazendo os meus olhos parar
O seu corpo dourado quero abraçado
Quero contigo casar

Vem cá morena que eu quero te amar
Vem cá morena que eu quero te beijar.


Composição: Armando Assumção / Beto Santanna.

Fotógrafa: Ananda Porto.

Luz da Cidade.


A luz da cidade cintila
O palco é a rua deserta
Aberta, tranqüila
A mesma voz a cantar

E o som sentimento profundo
Mais fundo que as dores caladas
Olhei-me nos olhos do mundo
Sonhei acordada

O tempo que me atravessa
Não cessa a emoção passada
Tropeços, promessas
O sonho não pode parar

E a história nem sempre contada
Cantada por minha paixão
Explodindo o meu coração
Traduzindo a lição
Dos que morrem de amar

Estive em cada solidão
Em forma de canção
Espalhei-me no ar.

Roberto Mendes, Jorge Portugal. Cantada por Maria Bethânia.

Fotógrafa: Ananda Porto.


Mar de Estrelas.


Que nenhuma estrela queime o teu perfil

Que nenhuma estrela queime o teu perfil
Que nenhum deus se lembre do teu nome
Que nem o vento passe onde tu passas.

Para ti criarei um dia puro
Livre como o vento e repetido
Como o florir das ondas ordenadas.

Sophia de Mello Breyner.

Fotógrafa: Ananda Porto.

Mar a-dentro.


























A minha vida é o mar o Abril a rua
O meu interior é uma atenção voltada para fora
O meu viver escuta
A frase que de coisa em coisa silabada
Grava no espaço e no tempo a sua escrita
Não trago Deus em mim mas no mundo o procuro
Sabendo que o real o mostrará
Não tenho explicações
Olho e confronto
E por método é nu meu pensamento
A terra o sol o vento o mar
São a minha biografia e são meu rosto
Por isso não me peçam cartão de identidade
Pois nenhum outro senão o mundo tenho
Não me peçam opiniões nem entrevistas
Não me perguntem datas nem moradas
De tudo quanto vejo me acrescento
E a hora da minha morte aflora lentamente
Cada dia preparada.

Sophia de Mello Breyner.

Fotógrafa: Ananda Porto.

sexta-feira, março 20, 2009

Totens Urbanos 6



















































"Nós temos cinco sentidos:
são dois pares e meio de asas.

- Como quereis o equilíbrio?"

David Mourão-Ferreira.


Fotos: Sandra Porto.

Totens Urbanos 5


























"Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida
Que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança. "



Antonio Gedeão.


Fotos: Sandra Porto.