Eu, preguiçosamente revoltada com a avalanche de camelôs que, inaugurando uma nova tradição no show-business da terra de Araribóia, inundaram a praia com suas ondas de gigantescas barracas feito árabes no deserto e me reservei o direito à sobrevivência contententando-me com a janela de minha tenda na categoria de uma espectadora que não vê (talvez ouvidoura fosse mais correto, se é que esta palavra seja de possível ocorrência). Até porque não daria para ser diferente, já que os aparelhos sonoros quando acionados em sua máxima potência, tornam-se gigantescos amplificadores auditivos para uso daqueles que como eu, candidatam-se nestes dias festivos a uma surdez galopante. Na praia do Icaraí - o do Icaraí é por honra e mérito do noticiário da BandNews sobre o evento - ainda somos aborígines vivendo nas grandes ocas de concreto armado da província de Nikiti. De qualquer forma, entre chuvas e notas musicais, a festa une e re-une toda a tribo, a fim de se cantar a Tupã.
Eventos assim me remetem a infância onde, nos salões da paróquia onde cresci, meu tio libânes, maronita, cristão e congregado mariano, reunia as grandes estrelas da música da década de 60 (e fins de 50), para o deleite da tribo desta época. Diferentes tribos, semelhantes rituais! Vi passar pela minha infância Jackson do Pandeiro com sua altíssima Almira, Ellen de Lima, Ângela Maria e outros dos quais não posso me lembrar agora porque memória de criança é curta, pois não? Imagina só!
Quem poderia dizer que eu, hoje cheia de seletismos musicais, já arrastei um bocado meu corpo ao ritmo de forrós, chá-chá-chás, twists e por aí afora... Pois é. Todo mundo já pecou alguma vez. Mas entre pecados e prazeres vamos traçando as linhas desta sinfonia saudosa, porque eu estou vestida com as roupas e as armas de Jorge, para que meus inimigos tenham pés e não me alcancem, já que não sou boba nem nada.
Fotografia: Joaquim da Cunha Bueno Marques (homenagem póstuma).
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