quinta-feira, novembro 19, 2009

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Chego neste momento e vejo as marcas em minha alma. Não sei bem avaliar se o tempo das experiências é o mesmo da assimilação delas. Creio que não. Passa rápido, como um furacão inesperado. Destruição e reconstruções. "Eu ando bem ligeiro", como diz a música que quebra o silêncio do meu quarto. Inesperado. Passa. E fica. Contradiz. Marca. Minhas. As marcas e os tempos.

quinta-feira, julho 09, 2009

No Lavradio.


Pelo sim, pelo não
Vou pedir proteção
Ao senhor do Bonfim
Nosso amor vai mais fundo
Vai deitando raízes
É difícil no mundo viver
Tão felizes assim como nós
Sou a voz que levanta
Sou aquele que canta
Uma canção sem fim
Pelo sim, pelo não
Vou pedir proteção
Ao senhor do Bonfim

Foto: Sandra Porto

Música: Pelo sim, pelo não. Moraes Moreira.

segunda-feira, junho 15, 2009

Juninas 1


"Vento que vento ventão
Me ponha logo no chão
Tenho muito que fazer."


Foto: Sandra Porto.

Juninas



"Pula a fogueira Iá, Iá
Pula a fogueira Iô, Iô
Cuidado para não se queimar
Olha que a fogueira já queimou o meu amor."


Foto: Sandra Porto.

sábado, abril 25, 2009

Baiana de Jorge.


"Mas eu vou num canto, vou num pai de santo pedir
Qualquer dia
Que me dê um despacho, um banho de erva e uma guia
Tenho aqui um endereço um senhor que eu conheço me deu
Há 3 dias
O mais velho é batata diz tudo na exata, é uma casa em Caxias."
Imagem: Sandra Porto.

quinta-feira, abril 16, 2009

Vestido de Chita Mô Fio!


Vem cá morena que eu quero te amar
Vem cá morena que eu quero te beijar

Teu vestido de chita no vento se arrebita
Fazendo os meus olhos parar
O seu corpo dourado quero abraçado
Quero contigo casar

Vem cá morena que eu quero te amar
Vem cá morena que eu quero te beijar.


Composição: Armando Assumção / Beto Santanna.

Fotógrafa: Ananda Porto.

Luz da Cidade.


A luz da cidade cintila
O palco é a rua deserta
Aberta, tranqüila
A mesma voz a cantar

E o som sentimento profundo
Mais fundo que as dores caladas
Olhei-me nos olhos do mundo
Sonhei acordada

O tempo que me atravessa
Não cessa a emoção passada
Tropeços, promessas
O sonho não pode parar

E a história nem sempre contada
Cantada por minha paixão
Explodindo o meu coração
Traduzindo a lição
Dos que morrem de amar

Estive em cada solidão
Em forma de canção
Espalhei-me no ar.

Roberto Mendes, Jorge Portugal. Cantada por Maria Bethânia.

Fotógrafa: Ananda Porto.


Mar de Estrelas.


Que nenhuma estrela queime o teu perfil

Que nenhuma estrela queime o teu perfil
Que nenhum deus se lembre do teu nome
Que nem o vento passe onde tu passas.

Para ti criarei um dia puro
Livre como o vento e repetido
Como o florir das ondas ordenadas.

Sophia de Mello Breyner.

Fotógrafa: Ananda Porto.

Mar a-dentro.


























A minha vida é o mar o Abril a rua
O meu interior é uma atenção voltada para fora
O meu viver escuta
A frase que de coisa em coisa silabada
Grava no espaço e no tempo a sua escrita
Não trago Deus em mim mas no mundo o procuro
Sabendo que o real o mostrará
Não tenho explicações
Olho e confronto
E por método é nu meu pensamento
A terra o sol o vento o mar
São a minha biografia e são meu rosto
Por isso não me peçam cartão de identidade
Pois nenhum outro senão o mundo tenho
Não me peçam opiniões nem entrevistas
Não me perguntem datas nem moradas
De tudo quanto vejo me acrescento
E a hora da minha morte aflora lentamente
Cada dia preparada.

Sophia de Mello Breyner.

Fotógrafa: Ananda Porto.

sexta-feira, março 20, 2009

Totens Urbanos 6



















































"Nós temos cinco sentidos:
são dois pares e meio de asas.

- Como quereis o equilíbrio?"

David Mourão-Ferreira.


Fotos: Sandra Porto.

Totens Urbanos 5


























"Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida
Que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança. "



Antonio Gedeão.


Fotos: Sandra Porto.

segunda-feira, março 02, 2009

Totens Urbanos 4







































































Coisas da cidade e dos cidadães!


Fotos: Sandra Porto.

Totens Urbanos 3

































































"Liberdade!, Liberdade!
Abre as asas sobre nós
E que a voz da igualdade
Seja sempre a nossa voz.
"

Refrão do samba Liberdade, Liberdade da Escola de Samba Imperatriz Leopoldinense.

Fotos: Sandra Porto.

quinta-feira, fevereiro 26, 2009

Totens Urbanos 2

..."Icaraí,

Que vem desde a Itapuca

Até a subida da Fróes

Icaraí,

Os poetas já não fazem mais Nictheroy

Canto a beleza, lembro o Gentileza

Histórias de rir.

Quanta Saudade,

O meu peito invade do Petit Paris

Eu sei que o tempo não volta

Que o Trolley faz volta no Canto do Rio

E nas areias sereias olhando o Rio

Eu sei que o tempo não volta

E o Trolley faz volta no Canto do Rio

E nas areias, a melhor vista do Rio".




Música Icaraí, do compositor Cilico, gravada pela cantora Beth Carvalho, no CD "Cilico e seus amigos".


Fotos: Sandra Porto.

Totens Urbanos 1

















































Quando nasci um anjo esbelto,

desses que tocam
trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
-- dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.


Adélia Prado.


Fotos: Sandra Porto.

terça-feira, fevereiro 24, 2009

Totens Urbanos.
























Poema do beco.


Que importa a paisagem, a Glória, a baía, a linha do horizonte? — O que eu vejo é o beco.



Manuel Bandeira.

Intervenção nos postes de Icaraí, Niterói, a partir da iniciativa dos artistas do Beco. Realizada em janeiro de 2009, contou com a participação de mais de 50 artistas plásticos de Niterói.



Fotos: Sandra Porto.

sábado, janeiro 10, 2009

Segunda Criatura.


Fel puro. Brevemente descrito, engenhosamente conceituado. Pinto minha boca com batom vermelho, não por luxúria, menos ainda por sedução. Bette Davis renascida das cinzas, tal como uma fênix pós-moderna, mantendo os longos vestidos brilhosos e acetinados, como não? Puro escárnio. Meu dorso tem as marcas dos desesperados pensamentos de repreensão. Culpa cristã? Provavelmente. Não poderia mesmo ser de outra forma. Lembro que estamos na quaresma e rio por dentro ao ver quão entranhado as coisas da religião estão em nós. A história do macaco e do pote de mel. Pois é. Sem remorsos ou vergonhas, ora bolas (como diria Mário Quintana). Na maior cara-de-pau! Porque vergonha é coisa de gente que pensa que não tem lugar no mundo dos homens de ternos pretos, colarinhos engomados, maletas cheias de papéis importantes (pretas também, of course) e decisões que abalam a vida do planeta. Não esta criatura. Ela se dá muito bem obrigada com todo este glamour televisivo. Estes dos plásticos coloridos, objetos descartáveis, monóxidos de carbono, comida que voa pelos balcões dos atendentes formatados como softwares modernos. Dá-se muito bem com a última moda, os dvds, cds, laptops. As muitas mídias. A confusão das ruas é sua trilha sonora. Os barulhos dos carros sua canção de ninar. Fel Bette não conhece as misérias. Gente que passa fome, vestindo-se de trapos, que sofre as dores mais terríveis. Um universo pararelo, coisa de cinema de péssima qualidade, notícia da imprensa sensacionalista afim de vender jornais. Gossip world! Não ela. Suas são as luzes brilhantes, os móveis reluzentes, os ambientes assépticos, as mesas fartas e bem-postas. Suas são as palavras escolhidas, as frases bem estruturadas, todos os erres e esses. Poucas, mas contundentes. O fel que existe em mim te despreza. O mundo com pôr-do-sol não faz sentido na trama desta vida pouco biografada: de seda-pura, evidentemente. O fel que existe em mim se esconde no coração de todos. Afinal de contas, muito poucos tem a bravura de mostrar o seu lado dark da força. Mea culpa, again. Mas quando a noite chega, no escuro do quarto de dormir, sob os lençóis de algodão egípcio, fique atento meu amigo, porque bem baixinho você ouvirá uma música. Sussurada, rouca, cheia da ternura que nenhuma pura Davis poderia transbordar sem se revelar. Um pequeno soprar melodioso que dirá que a felicidade foi embora e que a saudade em seu peito, ainda mora...


Sandra Porto.


Imagem: Bette Davis
Fonte: http://www.doctormacro1.info/

Le petit planète.


Pinto as paredes do meu quarto com as cores de meus presságios. Alguns se revelam claramente, sem hesitações, no lidar diário da vida comum. Outros se apresentam em sonhos estranhos, com tonalidades tão reais que penso estar acordada. Os presságios, que respiram por meus poros, surgem como uma frase dita sem pensar. Como aquelas que quando você percebe, já falou. Na maior parte das vezes, eles não atingem ninguém além de minha própria alma que, nestes momentos, se constrangem em dores inenarráveis. Tal como chuva cerrada, me afogo ao tentar arrancar delas a compreensão. Presságios prescidem de tais atentados. Vêm e pronto. Oráculos pouco desvelados não me ajudam em nada. Condição de existência não escolhida, sofro dos suores em technicolor. Agora mesmo não tenho cor alguma na parede muda de meu quarto. Acostumada a habitar este mundo além do real, estranho o estado do silêncio abismal que se faz em mim. Quem sabe uma nova ordem inaugure esta época diversa em meu pequeno universo e planetas ainda não descobertos constituam a verdadeira declaração sobre mim. Talvez sim, talvez não. A certeza porém do arcanjo a flutuar em amarelos e abóboras me conduz ao ousar da entrega. Sonhares. Presságios virão. E irão embora. Em minha mão um pincel delineará o caminho das estrelas, perto, muito perto de meu coração.


Sandra Porto.