Uma das pessoas que vivem em mim (algum poeta já começou assim um de seus poemas - com todo respeito), tem uma alma de pura nobreza, coisa que não sei de onde vem, mas que gosto demais. Gosta de colecionar memórias e poemas, porque considera que as duas são a mesma coisa. As memórias ela guarda em caixas, grandes, bonitas e onde ninguém pode mexer. Lá dentro tem um pouco de tudo, desde pedaços de pétalas de flores secas e antigas, até as pinturas feitas pelas máquinas modernas que registram os instantes de seus entes, outras criaturas que, ou por ela foram criadas, ou que por ela foram adotadas como suas. Às vezes ela gostaria de morar dentro destas caixas, porque lá a vida não se deteriora e nem se desgasta com o tempo. De dentro delas, das caixas, quando foge deste mundo confuso, ela vai tecendo as sutis relações com as criaturas que fazem parte deste seu infinito particular, com se deusa fora, cosendo o que de melhor existe nelas e desfazendo aquilo que não lhe agrada e que torna seus queridos seres desumanos e tristes. Não tolera deselegâncias e coisas toscas. Toscas aqui não tem uma conotação estética, já que o tosco, algumas vezes, pode virar arte e quando assim lhe parece, considera contemplá-las com seu olhar compassivo e curioso. Os poemas, os deixa à mostra, feito as bandeirolas que os budistas fincam nos montes ou em frente aos seus templos deixados ao sabor dos ventos, para que as palavras de beleza e encanto se espalhem pelo cosmo e fecundem a o planeta que tanto ama. Seu nome é mistério. Ninguém o saberá até que ela considere que as criaturas possam ouvi-lo sem nenhum preconceito ou julgamento. Um dia, quem sabe...
Sandra Porto
03/01/2007
Imagem: Mãos.
Fotógrafo: Luís Garção Nunes.
Fonte: http://www.1000imagens.com/
Um comentário:
No verão das tuas palavras, onde se encontram todas as memórias, nos roseirais brancos de cada caminho.
beijos de luz e Parabéns pelas belas palavras.
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