quinta-feira, setembro 28, 2006

Corpo




















Sem saber o que dizer, me sinto. Nua de palavras e repleta de pensares, o corpo reclama de atitudes. Não tenho nada para lhe dar, espere, acalme-se, corpo rebelde que não quer ouvir. Corpo intranqüilo que sabe pedir, mas não sabe dar. Corpo sem rumo que se debate em sensações inominadas mas precisas e preciosas. Não me tenha como uma escrava de seus desejos. Há muito desacredito do impulso e das paixões, querendo apenas ouvir a voz que não se faz presente e que me traria a quietude. Não, não me venha com apelos inúteis. Calo-te como quem comete um ato sem pensar e se condena ao mais severo julgamento. Arrependimentos se fazem distantes e deprovidos de propósito, diante da decisão profunda de não querer te saber. Conheço-te mais sabiamente do que pensas e por isso, emudeço diante de tua voz estridente e contínua. Durma, companheiro dos caminhos percorridos há tanto tempo. Durma e me sonhe.


Sandra Porto.

Imagem: John Singer Sargent




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