Escuto teus ventos e tuas brisas. Quem dera fosse surda aos murmúrios do porto...
Meus dias são repletos de dúvidas e incertezas, como se fora um sibilo sem fim afetando a capacidade de responder aos apelos. Ensurdecedor este silêncio que me acaricia o pensar. Quando assim acontece, as possibilidades de respostas ficam assustadas, tal como as crianças que temem o abandono de suas mães e, desprotegidas, se escondem sob as fantasticamente seguras e invioláveis cobertas. O tempo também não se faz amigo nestas horas de resoluções implacáveis e às vezes se torna necessário burlá-lo para o retorno da contemplação alegre e pacífica. Por um ato de misericórdia dos deuses, a beleza e a delicadeza, que nascem dos divinos gestos jamais perdidos na memória dos imortais, são irmãs generosas, definitivamente instadas neste caduco existir. As letras, arrumadas de uma forma quase tocável, tornam-se autônomas, possuidoras de inteligência irrefreável e brilhante, rebeldes que são de seu criador. Fechando-se num modelo de complexa enquadratura, a narrativa fica impedida de continuidade.
O intervalo no tempo da vontade que originou a declaração tão fresca e benfazeja, sofre a ameaça nebulosa da perspectiva do abandono e do esquecimento. Nestes momentos o porto torna-se não crível. Perdida talvez a lembrança de tudo. Quem sabe? Certas coisas não são re-inauguráveis a não se pela insistência tola de um desejar compulsivo no existir de um sopro de vida que tenta, nas bravatas dos mares crespos e morenos que separam continentes e raças, se fazer ouvir. Aparecer e desaparecer, ao gosto dos ventos e das ondas pode ser uma solução provisória, mas oportuna. Embora o enjôo deste pendular acontecer contínuo, a sensatez precisa da legalidade a fim de construir caminhos sobre as águas. Soberba presunção! A nada se dirigem os dias de insanos esgares textuais, gerados a sopapos, no meio da tarde de sufocados vapores, querendo estar em qualquer lugar que não aqui!
O samurai, envolto em seu branco quimono, realiza a morte honrada. E resgata sua dignidade.
O samurai, envolto em seu branco quimono, realiza a morte honrada. E resgata sua dignidade.
Imagem: Femme de Saint-Lazare par clair de lune, Pablo Picasso.
Fonte: http://csdll.cs.tamu.edu:8080/picasso
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